4.2.12

Foto feita por Myria ao receber os meus livros em Recife

Estou profundamente envolvido em alcançar uma concepção de arte e de literatura que se transforme numa emocionante Filosofia de Vida. Eu escrevo — preferencialmente — para loucos brilhantes e livres de espírito.



É preciso esclarecer que todo grande mestre, quer seja ele zen ou não, prega o controle dos estados de espírito como a sua maior conquista como ser humano. Mas, entre as pessoas comuns, o desequilíbrio emocional parece ser algo tão corriqueiro quanto abominável. Explosões emocionais (contidas ou violentas) levam o corpo a uma desgastante produção de hormônios que suportem, fisiologicamente, manifestações de ódio, medo, vergonha, ciúme ou desespero, quase sempre causadas por julgamentos imperfeitos realizados por um cérebro não polido. Energias enormes são assim desperdiçadas ao longo da vida. Energias que poderiam ser canalizadas para outras operações, seguramente mais saudáveis.

Entretanto, outra coisa extremamente grave pode acontecer nesse processo. Depois de errar tanto e pedir tantas desculpas (ou suprimi-las gerando um acúmulo de culpas), o cérebro vai se sentir um completo incapaz. Um incompetente. E vai diminuir, biologicamente, sua capacidade operacional. Não vai conseguir gerir com eficiência o próprio corpo a que pertence. As funções vitais ficarão comprometidas. A respiração, o metabolismo, o batimento cardíaco, a produção de endorfinas, o funcionamento glandular, etc. O corpo passa a adoecer com mais facilidade. Não só as sinapses se desestabilizam, mas toda a estrutura biológica do infeliz que erra muito.

Essa minha tese ainda não está finalizada. Pretendo refiná-la nos próximos dias. Ainda não decidi se a levo mais para o lado da psicologia ou neurolinguística.




A OUSADIA INTELIGENTE MOVE O MUNDO.



Um dos meus amores pretende abrir uma empresa de paisagismo no Guarujá. Para ajudá-la nesse projeto, e com base em minhas experiências anteriores, comecei a escrever um texto abrangente, uma espécie de rotina poética de procedimentos racionais para que ela tenha sucesso nessa realização de um sonho. Se seguir o que eu disser, sei que terá.




COMO VAI A LIBERDADE DO TEU ESPÍRITO PÁSSARO?


A vida está por um fio. Tua casa tá pegando fogo, teu amor se despedaça, tua hora está chegando... Não a hora da morte biológica, que pode até demorar, mas a hora da verdade, a hora de virar gente, a hora de assumir o comando. A hora de tomar consciência. A cebola da vida está descascando, inexorável, aí, ao teu lado; o leão do tempo, feroz, rugindo no teu cangote — e você não reage. Nem se mexe. Acontece que há conclusões às quais você tem obrigação de chegar, hoje: Ou você se salva — ou você se fode. Não há meio termo.

É isso que eu quero dizer novamente hoje, mas você teima em não me ouvir. Parece que todos temos uma certa tendência neurótica em deixar as coisas como estão, em salvar as aparências, em manter as estruturas — mesmo que apodreçam. Quase todos temos uma enorme preguiça de agitar as circunstâncias. Propendemos a deixar tudo como está, embora vivamos fazendo promessas de mudar o mundo. Como disse Goëthe no Fausto, "a quem persiste na Esperança ainda resta a Salvação". Mas você sempre deixa pra depois. Você chuta o agora. Você adia o instante. Você posterga o hoje.
Você pensa que vai viver mil anos...
Mas não vai, não.
Nem eu.




POR QUE VOCÊ SEMPRE CHUTA O AGORA?


Quando nos perdemos um do outro, ganhamos o direito de buscar de novo — um outro outro. Esse vácuo que se abre quando o outro se vai não deve ser nunca preenchido com restos de um passado que já não há. Esse espaço que o outro desocupou — até que enfim — agora é só teu. Cubra-o de paixões e de aventura.
Ela me olha, incrédula, quase assustada:
— Mas como poderei amar a perda, se o que perco é aquilo que eu mais amava?
— Gostei do ato falho: você disse “amava”.
— Mas eu amo ainda.
— E se separaram? Perderam-se um do outro, por quê?
— Divergências momentâneas... — ela me assegura.
— Aproveite a oportunidade: só a perda abre caminho para o novo.
— Ah, eu não gosto de perder — ela reclama.
— Troque: diga então “Só a separação abre caminho para o novo”.
— Mas eu também não quero me separar. Toda separação é dolorosa...
— Dolorosa para quem é fraco — resolvo provocar.
— Você acha que sou fraca?
— Não importa o que eu acho: procure, você mesma, ver-se como você é de verdade. Quem se sente forte, é forte. Quem pensa que é fraco, é fraco.
Ela suspira e solta os cabelos. E diz: — tudo que eu tinha apostei nessa relação.
— Essa frase é muito manjada — eu retruco.
— Tudo que eu era coloquei nesse casamento — ela fala como se não tivesse me ouvido. — Na verdade o vazio não está fora de mim: está dentro de mim. Não foi o casamento que se esvaziou: fui eu que me enchi de nada...
— Gostei desse duplo sentido do que você disse: “fui eu que fiquei cheia de nada”. Linda metáfora.
— A questão não é de metáfora: trata-se de uma solidão que se aproxima sobre mim de maneira insuportável.
— Estou gostando... — eu digo olhando para ela.
— Gostando do quê?
— Das tuas construções verbais, das tuas palavras bem colocadas. Por que você não tenta escrever sobre essa fase da tua vida?
— Eu sempre gostei de escrever, mas desde que me casei tive que parar — ela fala. — Ainda éramos noivos e ele leu um caderno de poesias que eu tinha escrito: pensou que fossem dirigidas a outro homem. Pediu que eu rasgasse...
— Então, teu futuro marido já era um estúpido — eu me arrisco.
— Estúpido, não — ela me corrige, querendo defendê-lo.
— Ah, desculpe-me: teu marido era um "gênio": só mesmo um gênio pode rasgar um caderno de poesias da pessoa que ele diz amar. Da futura esposa! Se quando ainda noivo ele já se mostrava imbecil, por que você levou avante o projeto? — eu atiço.
— Eu tava apaixonada — ela responde. E queria ter um filho dele — completa.
Sei que não tem filhos, mas resolvo não seguir por esse assunto. Mostro-lhe a garrafa inclinada e ela, sorrindo, consente com a cabeça. Levanta-se e abre dois botões da blusa. E eu pergunto:
— E teu marido, também apostou tudo nesse casamento? Ou vocês eram apenas dois loucos à procura de um fim?
(...)
Pausa para procurar o saca-rolhas. E momento para eu ficar pensando um pouco sobre o acaso. Tem diálogo que também não tem fim, suponho. A gente tem que aprender a ler os sinais. Quando eu retorno da cozinha ela já está completamente nua — e a nossa conversa muda completamente de rumo.
(...)
O diálogo acima é parte do meu livro Solidão a Mil.





EU ABRAÇO SEMPRE O CORPO QUE TEM MAIS CORAÇÃO.


Houve um tempo em que os meus amores queriam que eu fosse imortal. Suplicavam isso a Deus a todo instante, ajoelhados e contritos, lágrimas nos olhos. Deus, ao perceber tamanha sinceridade, atendeu-lhes o pedido, prontamente. Mas acabou exagerando. Tornou-me até capaz de conceder imortalidade a qualquer um dos meus amores. E hoje é o que eu faço — a todos eles. Amor com Amor se paga.





A LIBERDADE É PERIGOSA, MAS A PRISÃO TAMBÉM NÃO É SEGURA.


Se eu não mudasse, afundaria junto com as circunstâncias. Era preciso portanto que eu sumisse dali, que abandonasse tudo o que me envolvia. Tudo: o pai, a mãe, os irmãos, a família, os amigos, o dentista, o professor. O time, o futebol, as namoradas, minha vó, meus espetos de picanha. Eu tinha que abandonar tudo, inclusive minhas idéias, especialmente as preconcebidas. Os cobertores azuis, a pátria, a religião, e até mesmo meu querido cavalo Estrela. Eu tinha quinze anos. E tinha que abandonar tudo. Meus lençóis de cetim, meu quarto, minha cama, meus livros, meu baralho, meus recortes de jornal. Eu tinha que abandonar tudo — antes que chegasse o desespero. Eu precisava me desligar do passado, urgentemente. Então, como não tinha presente, enfiei meu radinho de pilha num saco de pão, enchi meu peito de futuro e de coragem, de alegria e de relâmpagos — e mergulhei de cabeça na incerta e gloriosa correnteza da vida. Nas águas revoltas do coração do mundo.

Deu certo.


Eu não adoto padrões mirabolantes para classificar os seres humanos. Não os classifico por peso, idade, volume ou cor da pele. Não me importa o seu saldo bancário, nem a casa onde moram, nem os carros que utilizam. Para mim, os seres humanos são de dois tipos: os que deram certo, e os que deram errado. Os que deram certo são os felizes. Os que deram errado, os infelizes. Suponho.




JÁ ESTAMOS EM MARÇO. VIVA ESTE MÊS QUE SE ABRIU.


A monogamia é a principal causa da impotência sexual masculina. Para a mulher, a monogamia é ainda mais desastrosa. Mulher que tem um homem só — por muito tempo — parece morta, desanimada, olhar sem brilho. Porque ela precisa escamotear a própria sensualidade para suportar a situação insuportável de uma relação sem graça. Tem que sufocar constantemente os próprios desejos. Por isso ela sorri tão pouco e conta nos dedos esses anos que perdeu... Faz planos de mudar de vida, mas só muda mesmo os móveis de lugar. E acaba comprando um jogo de panelas. Ou um sapato novo. Ou, dependendo da classe social, um parzinho de chinelos. Em vez de arranjar um amante, abraça a tv. Em vez de Henry Miller, vê novela. Se a fidelidade for recíproca, os dois serão solidários na tragédia — e se afundam mutuamente. Se machucam quase sempre e se amolecem pouco a pouco. Até que a morte os separe... É fatal.

Claro que a exclusividade, em certos casos, pode acontecer, e até ser muito gostosa. Mas tem que ser espontânea, fundada na liberdade absoluta — e durar pouco. Pouquíssimo: dois ou três dias podem ser uma delícia. Com duas ou três semanas, você sabe, as coisas já se complicam. Se durar dois ou três meses, o quadro clínico é sério — mas ainda tem cura. Porém, se a exclusividade sexual passar de dois ou três anos, torna-se uma tragédia! O touro vira um boi, e a musa — ratazana. A monogamia é uma invenção maldita: ela só permite o lado trivial e minúsculo do amor. É fatal.




A VIDA E EU NOS DESEJAMOS — MUTUAMENTE.



Leonardo da Vinci não conheceu Angelina Jolie. Portanto, temos que perdoá-lo pelos lábios finos da Mona Lisa. Mas não será por isso que agora iremos alterar o quadro... Não se altera uma obra de arte — mesmo que suponhamos estar melhorando-a. Da mesma forma, temos que aceitar um grande amor como ele é. Tentar corrigi-lo é uma falta de respeito ao Criador.


Eu não quero ensinar nada a ninguém. Não quero ser mestre, nem sequer me chamo Buda. Só quero provocar intelectualmente as pessoas criativas, como suponho você é. Quero esmagar todas as convicções — especialmente as minhas. Em verdade, não quero muita coisa: só quero abraçar a metade do infinito, e fazer o sol nascer azul no céu da tua boca. Quero amar a Liberdade, saltar profundo, viver a Vida. Dançar abraçado a Nietzsche na corda bamba à beira do abismo. E sempre colocar meu coração no bom caminho — ou seja, no caminho da perdição gostosa e da alegria desgovernada.


Você já notou que nas prisões não há jardins?


Há um conflito que come o teu lado de dentro. Ele come quase tudo: come teu desejo, come tua emoção, e vai comendo aquele restinho de cor e de brilho que você ainda possa ter. O desgraçado mata tua criatividade. Mata tua poesia, teu sexo, teu romance. Esse conflito é um monstro sem face sorvendo a tua força interior. Ele primeiro se alimenta do teu ânimo, e depois come o teu cansaço. Come o teu corpo — e depois devora o teu sossego, a tua paz. Devora a tua alma. Ele te abraça e te sufoca. Esse monstro se alimenta de tristeza. Se alimenta de rancor e preconceito. Mas, felizmente, há uma saída, há uma solução: — A solução é ser feliz. Acontece que, para aceitar tal conclusão como verdade, é preciso dar um passo além. E aqui teremos um novo nível de complicação: esse monstro sem face te quer imóvel. E agora?


Meditar, estudar Filosofia — e ser livre — são três coisas fundamentais na vida de um ser humano. Se não estudarmos um pouco de Filosofia, não seremos capazes de analisar corretamente as circunstâncias, nem de compreender a vida. Se também não meditarmos com freqüência, jamais explicaremos as razões de sermos o que somos. E sem ser livre, sequer teremos coragem de mudar o mundo. Mas só meditar não basta. Ficar um dia inteiro embaixo de uma árvore, na posição de Lótus, não adianta nada. No máximo, você talvez crie raízes e vire um arbusto. É necessário, de vez em quando, convidar Platão para um jantar romântico, ouvir o que Sêneca tem pra nos dizer, conversar um pouco com Aristóteles, tomar um vinho branco com Jesus, dançar com Vênus, visitar o velho Nietzsche, subir à torre de Montaigne — e assim por diante...



No vídeo acima se diz que o meu texto é do Pedro Bial, mas tudo bem... rs!




NEM TODA TRAGÉDIA TEM QUE SER INFINITA. JÁ EXISTE O DIVÓRCIO...





TODA PROVOCAÇÃO INTELIGENTE É UM DESAFIO EMOCIONANTE.


— Hoje é o dia mais feliz da minha vida.
— Por quê?
— Porque ontem não existe mais, e amanhã não existe ainda...
Só pode ser hoje!


QUANDO O CAOS FICA ÍNTIMO DEMAIS, TEMOS QUE TRANSFORMÁ-LO EM BORBOLETA.


Faça tudo para não pedir desculpas. Não estou propondo atitudes grosseiras, posto que, quando erramos, temos realmente que nos desculpar. O que proponho é o seguinte: que se pense antes de dizer. Que se julgue (racionalmente) a validade do que será dito, antes de emitir o próprio julgamento. Que se raciocine antes de praticar o ato. Dessa forma, erra-se menos. Logo, menor será a necessidade de pedir desculpas. Porque, quanto mais desculpas somos forçados a pedir, mais nosso cérebro vai convencer-se de que erra demais... E ele mesmo acabará concluindo que é um órgão deficiente. Fraco e falho.
Ainda estou escrevendo essa tese. Depois publicarei o original aqui.