3.11.11

Quando ainda adolescente, eu me dizia ateu. Era um compreensível gesto infantil de rebeldia intelectual. Uma síntese grosseira e provocadora, nada mais. Acontece que depois virei filósofo, e aquela descrença foi se refinando, paulatinamente. Em verdade, eu hoje creio num Deus maravilhoso, que mora dentro do meu próprio coração. Inclusive no meu próprio coração. Porque Ele mora também no coração das estrelas. O meu Deus pode até ser o mesmo que o teu — só que o meu é mais poético e não me exige uma fé inabalável. Não me pede nunca que abandone a Lógica só para ajoelhar-me a seus pés. Eu creio nele, simplesmente — e ele em mim. Não é preciso negociarmos nossas crenças em comum. Por isso, quando falo com meu Deus, dou-lhe a garantia de que sou-lhe seu amigo e não seu seguidor. Converso com Deus por opção poética, não por dever da crença. Minha chance de ser salvo, portanto, é enorme. Aliás, dando-me as condições intelectuais de ser ateu, especialmente a lógica e a razão, Deus já me salvou dos horrores e desgraças de uma fé sem fundamento. /// Depois mais eu volto aqui para continuar este assunto.


Ensinar a uma criança que Deus existe — e que isso é uma verdade inquestionável — deveria ser considerado crime de abuso intelectual.


A linha básica desse meu raciocínio é a seguinte: o cérebro, desde a mais tenra infância, ou habitua-se a realizar processos mentais complexos, questionantes — ou a agir passivamente, aceitando de modo acrítico as informações que recebe. Quanto mais intensiva e duradoura essa forma de proceder, mais cristalizada será a capacidade — ou incapacidade — que o cérebro terá de tomar decisões com algum fundamento. A partir disso é fácil concluir que um cérebro que adota crenças inverificáveis como verdades absolutas (como, por exemplo, a crença em Deus) será um cérebro que, paulatinamente, ficará incapaz de questionar, tornando-se deficiente. Logo, incutir crenças no cérebro de uma criança causa-lhe enormes malefícios, para o resto da vida. Se os pais soubessem disso, deveriam fazer tudo para que seus filhos jamais aceitem meras crenças como verdades inquestionáveis. Aliás, deveriam ensinar às crianças que uma das funções mais importantes do cérebro é raciocinar.

Ainda estou preparando os fundamentos dessa minha tese, que mais tarde publicarei aqui. Pretendo incorporar a hipótese de que um cérebro desde cedo questionante será mais bem sucedido, inclusive em suas funções de controles biológicos. O organismo como um todo será muito mais eficiente. Talvez seja por isso que os ateus adoecem menos. Essa também é uma tese minha — a ser verificada, é claro.

Entretanto, ensinar a uma criança que Deus pode existir, e demonstrar a ela que isto é uma hipótese belíssima a ser verificada, e que, se afinal e de algum modo for verdadeira, Deus será uma coisa esplendorosa e fascinante — isto é belo e fundamental!


MINHA ALMA É LOUCA — E MEU CORPO É LIVRE. NÃO POSSO MAIS DOMESTICÁ-LOS.


O céu tem todas as respostas. O céu azul, o nebuloso, o metafórico, o religioso e até mesmo o céu poético, romântico. Todo artista, todo filósofo, todo poeta, todo pensador — todos os loucos gostam de observar o céu. Estou agora vendo o sol nascer laranja. Fico olhando para o céu azul do Guarujá, manchado de púrpura e cereja. O dia vai abrindo a sua boca, calmamente, alegremente, como se o próprio Deus bocejasse ao meu redor. E eu fico aqui — meditando, ouvindo pássaros, pensando na Vida, tomando café... Um bela hora pra colocar minhas idéias em desordem outra vez.


ENQUANTO A GENTE CUIDA DA RAZÃO, DEUS TOMA CAFÉ.


Primeiro você tem que salvar-se de si mesmo. Só depois é que vai salvar-se desse outro que te oprime. Teu maior carrasco mora dentro de você. MS-98044. Às vezes, tenho vontade de escrever algo mais sério e mais profundo, mas logo me contenho, porque aqui é um blog de ensaios poéticos e loucuras despretensiosas. Não sou especialista em Freud, mas gosto muito dele, e o leio bastante. Suas teorias encantam a todos que procuram conhecer um pouco mais da alma humana. O criador da Psicanálise tem sacadas brilhantes. Essa da interiorização é uma delas. A chamada interiorização simbólica da autoridade, que ocorre desde a nossa infância, levanta em nosso peito uma barreira impressionante. Quase intransponível. Não vou contar aqui a história toda, mas, se o tema te interessa, dê um google por aí. O fato é que a culpa, o medo, a vergonha irracional, o preconceito, a ignorância — todas essas coisas horrorosas nos afastam do amor e da alegria, da liberdade e do prazer. Enfim, é mais ou menos isso que eu quero dizer agora, enquanto tomo café com meus lírios e pássaros.


EXISTEM CERTAS PESSOAS MUITO MELHORES DO QUE AS PESSOAS CERTAS.


O conflito normal pode ser inteiramente consciente. Ao contrário, o conflito neurótico é sempre inconsciente. No conflito normal, é possível a escolha concreta entre duas ou mais possibilidades que se apresentem, desde que sejam julgadas racionalmente, todas de algum modo desejáveis. Quaisquer coisas desejáveis: caminhos, projetos, pessoas. A decisão é prática, mesmo que isso possa ser às vezes penoso, e requeira alguma espécie de renúncia. Já o conflito neurótico não traz consigo a liberdade de escolha, mesmo que eventualmente dolorida. A pessoa enredada num conflito neurótico é impelida por forças igualmente compulsórias em direções opostas — e não raro contraditórias. Direções as quais não pode ou não quer seguir nenhuma, porque quer, sem poder, seguir todas. Ou não quer abandonar nenhuma daquelas que já iniciou ou já tomou. Pensa que todas são certas, todas necessárias; ou nenhuma é certa, nenhuma é boa. A pessoa assim está encalhada. Emocionalmente encalhada. Quer separar-se e tem medo de perder o outro. Quer o outro livre mas o quer também como posse. Às vezes, quer se livrar do outro, mas não quer perdê-lo. Quer ficar, e também quer partir — mas nem parte, nem fica integralmente. Às vezes, parte levando o corpo e deixa a alma, outras vezes, manda embora a própria alma e permanece. De qualquer forma, se fica, ou se vai, sempre fica, ou vai — em partes, nunca inteira, nunca com totalidade, nunca com integridade. Baixam-se os padrões, a monotonia se instala. O relacionamento vai sendo composto por partes, aos pedaços. E esses pedaços, esses cacos, não mais conseguem satisfazer quem quer que seja. Aliás, esses cacos, esses pedaços, podem até satisfazer uma certa categoria de pessoa: — o medíocre. O medíocre, embora quase sempre insatisfeito, na realidade se contenta com muito pouco. O medíocre pensa que o próprio todo é um pedaço, porque ele mesmo já está em pedaços. Esfarrapado, pequeno, minúsculo — resto de si mesmo. Acontece que o medíocre não se coloca esse tipo de questão. O medíocre não se coloca nenhum tipo de questão. O medíocre nem sequer percebe seus conflitos, o coitado não percebe o mundo, não se questiona, não pensa, não filosofa, não sente, não enxerga. Não sabe ler os sinais. Não conta. Ao medíocre basta ser medíocre — e ele já estará realizado.


SE MINHA ALMA NÃO FOSSE PURA NÃO TERIA O DIREITO DE TOCAR TEU CORPO.


Embora seja insuportável para quem já perdeu a lucidez, a Loucura é a salvação. Por isso recomendo aos "normais ainda saudáveis" que procurem o caminho poético da Loucura. Claro que não me refiro à loucura inconsciente, transtorno bipolar, psicose, depressão, esquizofrenia, nem algo semelhante. Eu me refiro à loucura criativa de Osho, de Dali, de Paritosh. Eu me refiro à loucura brilhante de Nietzsche, de Jesus e de Artaud; à loucura sagrada de Van Gogh, Henry Miller e Picasso. Eu me refiro à loucura que está ali — aqui — a quase 360 graus da sanidade. Eu me refiro à fuga da escuridão chamada Norma. À quebra radical das correntes opressoras. Ao abandono puro e simples do rebanho. Eu me refiro à loucura luminosa dos criadores de mundos. À loucura dos amantes da liberdade absoluta. Esta, a loucura que (me) (te) (nos) encanta...


NO FIM DO MEU ARCO-ÍRIS NÃO TEM UM POTE DE OURO. TEM UM VASO DE FLORES.


Acho que minha rebeldia anda meio fora de forma. Tem dias em que coloco panos quentes no meu freezer. Contemporizo. Viro mediador da realidade. Até penso em acertar e arrumar algumas coisas, embora sabendo que melhor seria desarrumar todas elas de uma vez. Na verdade, eu devia mesmo realçar essa anarquia que me abraça, buscar mais harmonia no desarranjo puro, na inconsequência sã, no abismo absoluto. Desestabilizar esse caos que já está ficando íntimo. Pôr um pouco mais de equívocos poéticos nas certezas cotidianas. Mais loucuras e doçuras, mais sol, deslumbramentos. E tornar-me desnecessário para todos, para tudo — e para sempre.


EU SEMPRE VOLTO À TONA. É ONDE ENXUGO AS MINHAS ASAS PARA VOAR, DE NOVO, AO PICO.


Toda paixão amorosa é belíssima. Apaixonar-se é sempre fascinante. Não fosse assim, pouca gente se apaixonaria. Mas precisamos acabar com esse mito horroroso, insustentável, de que a paixão dói... Paixões nunca são dolorosas. O que pode doer, e eventualmente até machucar de verdade, é a não satisfação das expectativas (ingênuas, excessivas ou maldosas) que se montam, indevidamente, em cima das paixões. Eu só entendo uma paixão como algo de mão única, sem cláusulas condicionantes. Apaixonar-se esperando retorno vira apenas um negócio. Como outro qualquer. Só que um pouquinho mais sórdido.



MEU CORAÇÃO SEMPRE ME SEDUZ



.


A VIDA É UM JOGO




A Vida é um jogo, belíssimo, onde só se pode ganhar aquilo que se arrisca.
Mas você parece que não anda perdendo muito, nem ganhando muito.
Nenhuma derrota acachapante, nenhuma vitória inesquecivel.
Nenhum ato grandioso, nenhum espetáculo.
Nenhuma desgraça, nenhuma paixão.
Nenhuma queda profunda, nenhum salto mortal.
Nem pra cima, nem pra baixo.
Nada!
Nem escuridão, nem brilho, nem glória, nem tragédia.
Assim — a tua vida.
Segura, pacata, certinha, e normal.
Tudo em ordem, tudo estável e bem comportado.
Tudo em brancas nuvens.
Tudo meio morno, meio tépido, meio frouxo, meio mole.
Meio apagado.
Meio cinzento e meio sem graça.
Assim — a tua morte.



TODO ASSOMBRO TEM QUE SER ADMIRÁVEL. SE NÃO, ESPANTA.



Eu vivo a deliciosa incerteza a cada instante. E exceto a defesa radical da Liberdade absoluta, não tenho convicções inabaláveis. Não tenho caminho certo, não ando por sobre um bloco de cimento frio, não gosto de muros, nem gosto de grades. Eu decido se mudo ou se danço. Mas adoro mudançar... A instabilidade de uma corda bamba de seda à beira do abismo me excita. Eu não quero ordens — eu quero música. Ninguém me prende, ninguém me dirige, ninguém me sufoca, ninguém me segura. Não aceito invasões. Não dobro a espinha, nem ponho meu rabo entre as pernas. Não estou à venda. E jamais darei procuração para que alguém viva minha vida em meu nome. Sou eu que faço as minhas escolhas. Sou livre.



A PRODUÇÃO DE RESULTADOS NÃO DEPENDE DA ESPERANÇA




Nunca chorei tanto ao ver um filme assim. Belíssimo. Quase me afoguei com as lágrimas soltas e livres. Eu sei que ela também vestirá luto quando eu morrer, e, assim como Fanny, vai caminhar pelos campos — desesperada — e recitando meus versos de amor. Eu sei.



METADE DO MEU CÉREBRO É CONTROLADA POR MEU CORAÇÃO. A OUTRA METADE EU NÃO SEI.



Deverei assumir o risco dos projetos fascinantes ou deixar que esmaguem no meu peito a gostosura das paixões enlouquecidas? Devo permitir que as vontades puras que tenho em mim sejam cada vez mais satisfeitas, ou submeter meu coração apaixonado aos controles neuróticos do outro? Devo assumir o compromisso com essa estética erótica que permeia toda minha existência, ou apenas continuar essa volta ao passado, esse renegar amargurado, normalizante, ensandecido, precário, ridículo, esse renegar desajustado e caótico de um futuro brilhante que já trago em mim? Poderei continuar sendo um fogoso corcel em disparada, ou o mundo conseguirá fazer com que morram, por perigosas, essas paixões que me libertam? Saberei eu manter as dúvidas enquanto caminho por essa furiosa tempestade de esperanças?



A REALIDADE É A SOMA DO QUE EXISTE E DO QUE SONHAMOS



No trapézio da Vida este é o salto pra cima proposto por mim. Negros degraus de uma escada amarela dobrada em direção às estrelas, brancos gravetos com que acendo meu fogo. Sei que se falo de Nietzsche te assusto, e se falo de escravos te entorto e brigamos. Então traduzo as palavras que abraço na cruz e desvendo mistérios de Cristo — para corrigi-los de forma profunda e torná-los brilhantes, graciosos e ébrios. Quero, portanto, que tua língua sóbria tropece agora no meu cérebro puro, mas vibre agradável, e sempre tremule feito bandeira. Porque Zaratustra tem pressa e te espera brincando lá fora. Grite, portanto.



TODA FASCINAÇÃO TEM QUE SER CEGA PARA TUDO AQUILO QUE NÃO SEJA A SUA PRÓPRIA CAUSA



Numa corda bamba a gente se testa, de cabeça, a todo momento. Há que ter equilíbrio quase perfeito, medidas iguais, desejos profundos. Ninguém se enforca com corda bamba porque seus fios são trançados como se enredo, e a trama é delícia. Nenhum pardal vai querer tirar um fio da corda bamba para com ele fazer ninho, como fosse navalha. Pardal que se preza tem que ser livre, aventureiro, Vogelfrei. O pardal não tem belas plumagens, caçadores não lhe dão importância, ninguém quer tê-lo em gaiolas. Por isso ele pode dormir até mais tarde e depois cantar sem medo, sem preocupações. Todo pardal é fora da lei: Vogelfrei. E tem duas coisas que pardal não suporta: gravata e nó na garganta. Pardal não tem formalidade, não usa uniforme, não faz mesuras, nem salamaleques ou favores. Só quer saber de cantar, voar e ciscar. Recusa nó na garganta. Porque nó na garganta só atrapalha a melodia, deixando-a triste, sem vida e sem graça. Melhor seria talvez enforcar-se com as próprias cordinhas vocais.

Então — se não podemos falar pra fora, falar pra quê? O canto que não se canta se torna veneno. E o pardal, por ser livre, sabe das coisas. Na verdade, esses pardais que só agora me acordam, o fazem sem querer — e pela segunda vez. A primeira vez que me acordaram foi com seu canto, e a segunda, com sua filosofia. Ou seja: nas duas fui acordado por amor. Não para que me levante: quem é capaz de acordar duas vezes já vive em pé, ao menos por dentro. Mas, nesta manhãzinha que chama Iracy, sol brilhante em céu azul, tomo café como pão comesse, me alimento das lembranças, líquidas, delicadas, fortes, cristalinas. Na fumaça do café sinto-me oráculo, e vejo que a realidade é arbitrária. Tenho vontade de buscar o crânio vivo do meu pai no cemitério, para conversarmos todo dia, aqui, em frente ao mar, tomando sol, tomando vinho e decisões. Por isso escrevo, divago, e digo: os poetas, nunca seremos compreendidos. Porque nós vemos sempre a coisa e seu fundamento, e os outros só vêem a coisa e sua utilidade. Nós vemos o todo poético de um universo dançante, e os outros só vêem a parte seca de um mero processo. Nós, os poetas, brincamos com as palavras. Os brutos fazem delas uma arma. Para nós, as palavras são flores. Para eles — punhal.




A FILOSOFIA É O MELHOR ANTÍDOTO AO TEU VENENOSO SISTEMA DE CRENÇAS



Cobre-se de mim com o frio cobertor de preconceitos que lhe deram, como se meus olhos desvendassem mistérios insondáveis; como se mistérios fossem coisa de se expor assim, à flor da pele. Cobre-se de mim, essa menina, como se de uma terra descoberta já pudesse, um dia só, esconder-se de quem a descobriu. Então, olho para ela, que sorri em minha cama caravela, e lhe digo, mais profundo:

— Sou hoje o Pedro Álvares Cabral do teu orgulho, meu amor. Cheguei sem te avisar, e agora te ocupo docemente. Não como posseiro, mas um condor visitante. Não para sempre, por instantes; não com armas, mas com brilho, luz, compreensão. Te ocupo, mas não te exploro, não devasto, não ofendo, nem machuco. Não pisarei com minhas botas o teu solo: acaricio só com minha língua o teu pudor. Feito Baco, eu te beijo, lúbrico, generoso e louco como um deus aventureiro, e deixo no teu corpo o vermelho dos meus lábios encantados. E memórias de indecências delicadas, gostosuras que o vento da mudança logo logo levará.




MAS O ESSENCIAL É INABANDONÁVEL...



Eu te amo e quero ser feliz. Mas, se houver contradição entre essas duas coisas, nunca deixarei de ser feliz por teu amor.




O CIÚME É UMA PLANTA CARNÍVORA: DILACERA O CORAÇÃO.


Sou um abridor de gaiolas. Mas não quero que me considerem muito original: eu apenas repito o que me pedem os pássaros. Transformo em português, literalmente, os cantos que eles cantam para mim. E repito-os, amorosamente, só para que vocês possam ouvi-los de verdade em nossa língua. Às vezes, quando chove chuva viva e o canto deles vem molhado, limpo um pouco o seu trinado, acrescento algumas notas, pinto-as de azul, e reescrevo a melodia. E transformo o beija-flor em minha estrela. O bem-te-vi em bem-te-vejo. O pardal em perdão, o tiziu em tesão. E abro todas as gaiolas.


APRENDER A CAIR É MAIS IMPORTANTE DO QUE APRENDER A LEVANTAR-SE


Sou um escritor. Aliás, suponho que seja. Escrevo bastante. Tenho alguns livros publicados e edito alguns blogs, onde faço referências aos meus amores, aos meus amigos e aos meus irmãos. De todos eles, tenho muitos. Os amores eu escolho a dedo, os amigos a vida me dá, e os irmãos vieram de minha Mãe. Quando falo dos meus amores, quase tudo é memória, dança e desejo — se não for só a lembrança da festa de ontem. Dos amigos, só lhes conto as visões do mundo e os vinhos que tomamos por aí. Mas quando falo dos meus irmãos, duas coisas ocorrem. Se escrevo que no domingo passado todos viajaram ao Tibet, montados num furioso tigre de bengala, nenhum deles se incomoda: só pode mesmo ser ficção. Mas, quando digo que todos se foderam em seus casamentos, eles acham que é tudo verdade, e se voltam contra mim. Que coisa! Não se pode mais fazer ficção sossegado?


TROQUEI TUDO POR LOUCURA. POR ISSO É QUE TENHO RAZÃO.


Grandes paixões sempre duram pouco. A natureza da paixão é ser fugaz e passageira. Ninguém suportaria viver aventuras diferentes todo dia, e grandiosas, com a mesma pessoa. Seria a banalização da gostosura. Já os casamentos monótonos tendem a durar mais, muito mais. Porque faz parte da própria natureza do casamento tradicional ser monótono, e excluir toda possibilidade de aventura, de risco e de emoções. O casamento foi inventado para encurralar o amor, domesticar os amantes e torná-los pacatos, cinzentos e estáveis. Em outras palavras, para burocratizar o amor. O casamento foi criado para tornar os amantes sem graça. Ou seja: para desgraçá-los. E tem gente que só percebe isso vinte e cinco anos depois...


MAS TER RAZÃO NÃO TEM A MÍNIMA IMPORTÂNCIA...


Quando eu digo que não podemos perder nossas raízes, isso não tem nada a ver com geografia, não tem nada a ver com cidade natal, nem com as pessoas que nos cercaram em nossa infância, nem com família mais próxima. Quando eu digo que não devemos perder as raízes, isso significa que não devemos perder aquilo que de mais íntimo e bom existe dentro de nós mesmos. É aquele sopro de vida, aquele alento — o ânimo, nossa própria alma. Aqui é que residem as nossas raízes. Essas é que deverão ser regadas todos os dias, para que não morram, para que não pereçam, para que não nos sejam esmagadas por ninguém. Essas raízes, não devemos perdê-las nunca.


POR QUE VOCÊ NÃO PROCURA VIVER ENQUANTO AINDA ESTÁ VIVO?


Cruciais e deliciosos, estes momentos que atravesso e que me cobrem de açúcar. A vida hoje encontra-me voando no limite do amor e da coragem. Minha profissão é perigosa: sou amante do Risco e do Instável, do Incerto e da Surpresa. Entre um largo muro de cimento preso ao chão e a corda bamba de seda à beira do abismo — opto por esta, sempre. Sou um trapezista maluco no escandaloso Circo da Emoção. Todos os meus saltos são mortais, alegres e profundos. Eu viro a lona azul do céu que me descobre pelo avesso. Meu coração não tem juízo... Como poeta libertário, seria pouco não fosse assim. Porque não tenho razões para ser de outra forma. Se posso ser tudo, não preciso ser médio nem comedido — e não quero ser nada além de mim. Amo a Liberdade como se não pudesse amar outra coisa. Não consigo mais viver em conta-gotas: eu agora só vivo aos borbotões.


QUANTAS DIMENSÕES SERÁ QUE O TEMPO TEM?


Quem adota a crença, primeiro assume as conclusões, e depois vai atrás dos argumentos. E o que é pior: só aceita os argumentos que não abalem suas conclusões. Por outro lado, quem adota a razão, o método racional, primeiro levanta as hipóteses, e depois sai à cata de conclusões. Caso as conclusões porventura invalidem suas hipóteses, formulam outras, sem que por isso se sintam ofendidos. Coisa que os crentes não suportam, posto que suas teorias sempre são tomadas como dogmas, e não como hipóteses.


ÀS VEZES PERDEMOS A VIDA NO MESMO LUGAR EM QUE A SUPOMOS GANHAR.


Certas pessoas parecem gostar mais de metáforas sólidas. Parábolas de concreto armado. Cimento, cal e areia — em vez de emoções.


NÃO CREIO EM ATALHOS PARA O INFINITO.


Sou fiel primeiro a duas coisas: às minhas origens, e à minha finalidade. Não as troco por nada, nem as traio jamais. Porque — às minhas origens eu devo a minha história, e à minha finalidade, o meu prazer.
Só depois de ser fiel a elas é que posso ser fiel a outras coisas.


O ÚNICO CRIME QUE NÃO TEM PERDÃO É DESPERDIÇAR A VIDA.


Batizado no rio Jordão por um louco chamado João, Jesus, naquele tempo, era um dentre muitos pregadores. Dizia ser impossível servirmos a dois senhores ao mesmo tempo. Olhai as aves do céu: não colhem nem armazenam. Olhai os lírios do campo, que não tecem nem fiam, e o Senhor tudo lhes provê. Eu não vim trazer a paz, eu vim trazer a guerra. Eu vim pra separar o filho de seu pai e a filha de sua mãe. Rico não vai entrar no céu, de jeito nenhum. Deus está lá, onde está teu coração. Ele falava coisas assim, meio malucas. Ele adorava metáforas e parábolas. Expulsou negociantes do templo. Os irmãos detestavam ele. Beijava Madalena na boca. Ouvia vozes. Mais fácil um camelo passar não sei onde. Ficava insultando meio mundo. Um dia o levaram lá no topo de uma montanha e quase o jogaram no precipício... Eu gosto desse cara!


NÃO POSSO TRAIR DE FORMA ALGUMA OS MEUS AMORES SIMULTÂNEOS.


Nada de verdadeiramente genial e grandioso foi criado até hoje na História do Mundo, sem liberdade, criatividade, inteligência, entusiasmo e ousadia.


VIVER É RECOMENDÁVEL.


Aos 22 anos eu montei a minha primeira empresa. O nome era K-misster, e ficava na Avenida Nacionalista, número 100, Itaquera, SP. Aluguei o galpão, comprei as máquinas na rua São Caetano, montei um estoque enorme de tecidos, que comprei na 25 de março, contratei dezessete costureiras e soltei o meu barquinho em alto mar. Eu também desenhava os modelos. Cheguei a vender vários lotes para as Lojas Piter, que ficava ao lado do Teatro Municipal. Mas a fábrica era muito longe, e eu queria curtir a vida. Depois de três meses larguei tudo, dei as máquinas para as costureiras — e vim viver.
Deu certo.


NUNCA SE RECOMEÇA. SEMPRE SE CONTINUA.


Uma borboleta voa e você levanta a cabeça para segui-la. Tenta acompanhá-la com olhares, não somente pela graça do seu voo, mas por seu significado físico e poético. A borboleta é o símbolo mais perfeito do ócio artístico e da liberdade criadora. Fascina porque é bela e livre. As borboletas são independentes. Não existe ciúme entre elas, nenhuma controla o voo da outra, não existe desenho prévio para o tipo de voo que vão voar quando saem a passeio. Não fazem planos para os voos do dia seguinte, não acumulam coisas, não carregam nada nas costas, não se casam nem se prometem coisas absurdas. Por isso as borboletas fascinam. Por isso as pessoas querem seguir as borboletas. Voar como elas. Ser como elas.
Teoria do Acaso - página 13.


NOSSO MEDO É SEMPRE MAIOR QUE OS ARCABUZES DO INIMIGO


Tem gente que diz que me ama, e promete-me o céu em troca da minha liberdade. Mas, quando vê que eu não aceito fechar o negócio, sai dizendo que sou só um caroço seco de uva verde...
Prefiro assim.


QUE TIPO DE ALEGRIA VOCÊ HOJE QUER SE DAR?


Minha vida é uma festa. Cada um traz o que tem. Quando vem uma doutora formada na Sorbonne, conversamos normalmente, jantamos e dançamos, e eu não exijo que ela seja uma gostosa: eu não falo com seu sexo. Quando vem uma gostosa, transamos normalmente, e não é preciso que ela tenha um diploma na Sorbonne: eu não transo com seu cérebro. E assim caminha a Humanidade. Minha vida é uma festa. Cada um traz o que é.

Afinal, nem eu tenho diploma na Sorbonne...


A REALIDADE SEMPRE CAI DE CABEÇA NAQUILO QUE EU SONHO.


Como já disse, todos os meus textos são parabólicos. Até mesmo a minha própria língua portuguesa é metafórica, quando dança alegremente no céu da minha boca, sintática e semântica. Talvez seja influência daquele outro cara que fazia a mesma coisa — antes que o pendurassem, coberto de óleo de amêndoas, numa cruz de ébano e aço.


MAIS VALE UM SAPO CRIATIVO DO QUE UM PRÍNCIPE BABACA.


Porém, antes que o meu barco singre os mares revoltos desta vida, encho-o de coragem e de remos, iço as velas, desfaço todos os meus planos, jogo longe a bússola da normalidade, rasgo todos esses mapas que me deram — e me afundo no desejo de amar. Vou agora criar uma deliciosa tempestade no teu coração!


SENTIR-SE PRESO É O PRIMEIRO PASSO PARA SE VER LIVRE.


O espírito agitado dessa consciência louca que me faz subversivo, age em mim a todo instante. Para que não se detenha minha coragem, nem frente ao juízo em contrário que as paixões às vezes causam. Minha alegria não requer mais recompensa — ela mesma já se basta porque existe simplesmente. Ninguém consegue desfazer impunemente o que foi feito, se foi feito com Amor e entusiasmo.




Joyce ontem fez-me um amoroso discurso. Falou coisas belíssimas sobre a vida que levamos e os caminhos todos que nela existem. Impressionou-me pela sensatez e profundidade das palavras. Acabou me dizendo que sou agora um lutador quase sem armas, porque uso apenas as mãos e o cérebro. “Preciso de mais?” — perguntei-lhe. E ela respondeu: “Sim, porque tem horas que um fuzil te pouparia tempo e energia!”
E eu, que sempre supus me bastassem o karatê e a filosofia...
Errei.
Obrigado, Joyce Ann.




TEM GENTE QUE PRIMEIRO CRIA UM DILÚVIO, E SÓ DEPOIS VAI CONSTRUIR A ARCA.


A exclusividade não é natural. Não é inerente ao ser humano, não vem gravada no DNA. Se alguém diz que me ama, mas quer me controlar, em verdade não ama. Melhor comprar um bichinho de pelúcia, para dizer que é seu. Se alguém tiver encanto que me pareça suficiente, nem precisa querer me controlar, pois eu lhe ficarei eternamente aos seus pés — ou pelo menos enquanto durar o encanto.

Entretanto, se saio para alguns vôos livres em vez de ficar no ninho, é sinal que esses vôos me são mais engraçados, mais bonitos, mais necessários, ou mais interessantes do que a permanência no ninho. Então, como pode alguém culpar-me por ter asas? Desde quando é proibido gostar de voos livres?


EIS UMA VERDADE INCONTESTÁVEL: SÓ OS CIUMENTOS É QUE SOFREM POR AMOR.


— O que significa viver? — perguntava eu a Nietzsche, nesta madrugada brilhante, ao lado de dois copos de vinho vermelho. Então, sorrindo, ele me abraçou e respondeu:
— Viver, Edson, viver é afastar de si, radicalmente, tudo aquilo que quer morrer. Viver é ser implacável com tudo aquilo que em nós — e não apenas em nós — se torna fraco e insignificante.
Jamais me esquecerei.


UM MILHÃO DE VEZES!


Quando estou perante Maria, e digo "Eu te amo, meu Amor" — estou me referindo, antes, ao Meu Amor, não necessariamente a Maria. E se Maria entende que é a ela que me refiro, esse é o seu entendimento — e eu o respeito. Afinal, quem sou eu para determinar o que Maria pode ou não concluir? Mas não será por isso que mudarei a minha referência: continuo dirigindo-me ao meu Amor, esse grande amor que tenho no peito, e que transborda o meu corpo e me circunda. Inquestionável. Inteiro. Indespedaçável. E que por ser enorme, infinito e eterno, pode até envolver Maria, é claro. Por uns tempos...


COMO POETA, EU CREIO EM TODOS OS DEUSES. COMO FILÓSOFO — NÃO POSSO CRER EM NENHUM.


Você pensa que gêneros de primeira necessidade são arroz, feijão, farinha e óleo de soja? Nada disso. Gêneros de primeira necessidade são poesia, alegria, liberdade, tesão e gostosura.


HOJE EU QUERO IR ATÉ ONDE A MINHA IMAGINAÇÃO NEM CHEGA.


Ainda que a Inquisição tivesse queimado vivo Galileu Galilei, isso não faria com que o sol "continuasse" girando em torno da Terra. Os conservadores não entendem nada, mesmo. Nem de Ciência, nem de Luz ou Liberdade. Os estúpidos defendem aquilo que já morreu faz tempo — ou que morrerá em breve. Os conservadores, por isso mesmo, precisam ser autoritários. As ideias deles só se sustentam à força...


VIVA A REVOLUÇÃO DA GOSTOSURA!


Quando caio em mim, tenho que me cair todo, para cima. E assim que me acordo, me acordo outra vez, pela segunda — de novo. Dançando nas luas acesas das madrugadas brilhantes no meu quarto crescente, me abro, inteiro. Escancaro meus avessos para todos os lados, mas principalmente para dentro de mim mesmo.


O AMOR À LIBERDADE É A ÚNICA CONVICÇÃO QUE NÃO POSSO ABANDONAR.


Quem acredita em destino não pode crer em livre arbítrio, ao mesmo tempo. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Quem é você para mexer no texto de Deus? Se já está escrito que um vaso de flores te cairá na cabeça na esquina da Avenida Liberdade com a Rua Independência, na quarta-feira da semana que vem, às três da tarde — ninguém, nem Deus, pode mudar esse fato. Isso é o destino, segundo aqueles que nele creem. Portanto, na quarta-feira, ali pelas 14h45, "alguma coisa" vai te levar àquela esquina. Mas, se você não for, é que "o teu destino era não ir". Ou seja, a explicação absurda se vai dando pelos efeitos, e não pelas causas. Convenhamos: para quem raciocina um pouco, fica muito difícil defender essa prevalência do Destino sobre a Vida e a Liberdade. E é exatamente isso que eu discuto no meu livro Teoria do Acaso.


A LIBERDADE É QUE NEM DEUS: TEMOS QUE SENTI-LA TODO DIA.



Eu sempre me afasto dos nervosos. Procuro ter a delicadeza de nunca ligar-me a pessoas grosseiras, falsas, insensíveis. Fujo dos enfurecidos. Desvio-me de ciumentos radicais. Detesto autoritários. Quero distância absoluta de estressados e neuróticos. Não concedo aos ditadores sequer minha presença temporária, nem permito aos brutos que suponham ser possível invadir os meus momentos de amor — que são todos.






JAMAIS CONSIDERO DESAFORO AQUILO QUE DIZ UM IDIOTA A MEU RESPEITO.



Não devemos ficar muito impressionados com uma hipótese, só porque ela é nossa. Toda hipótese não passa de um pequeno passo no caminho do verdadeiro conhecimento. Temos que questionar, sempre, por que uma determinada ideia nos agrada tanto... Temos obrigação intelectual de compará-la, imparcialmente, com as alternativas. É fundamental verificarmos se é possível encontrar boas razões que a invalidem. Se não fizermos isso, outros o farão — e nós seremos ultrapassados, vergonhosamente. O que nos deve interessar, antes de tudo, é a verdade, e não o nosso apego a certas conclusões que adoramos.






SÓ O QUE ESTÁ MORTO NÃO SOME...



Não me queira tanto, assim, meu amor. Não imagine que eu vou durar para sempre. Sou só um passageiro do teu peito. Filho do relâmpago, brilho muito e sumo logo. Só o que está morto não some.






O MELHOR AFRODISÍACO É A TESÃO.



Eu procuro manter apenas três tipos de relacionamentos:
1. Os que dão prazer;
2. Os que são realmente necessários à sobrevivência; e
3. Aqueles que de alguma forma trazem sabedoria ou estimulam a criatividade.
Os demais, todos os demais, são extremamente dispensáveis.






MUITOS FALAM DE AMOR. POUCOS O VIVEM.



Se você estiver doente, carente, ou à beira da morte, nem venha me ver. Nesta casa não tenho remédios. Aqui se troca entusiasmo por alegria, ou vice-versa. Não tenho aspirina, novalgina, dipirona ou anadores. Aqui só tenho abraços, música e flores, estrelas, vinho e amores!




Mas se eu não me cuidasse todo dia muito bem, já não saberia mais o que de mim é meu, nem o que em mim sou eu. Alguém, com boas intenções e um sopro cansado, já teria apagado essa chama que sou. E eu seria uma triste coivara num monte de cinzas, uma flor ressequida em jardim pisoteado. Se eu não me cuidasse, seria só um burro carregado de certezas e de angústia. Estaria cheio de juízo, de filhos e dores. Já teria perdido a loucura, o jogo e a dança. Teria perdido a liberdade, o amor e o rumo. Se eu não me cuidasse muito bem, já estaria morto, enterrado e fodido.





FUJA DAS PESSOAS PERIGOSAMENTE NORMAIS



Nesta sociedade em que vivemos, são cinco as instâncias principais que nos oprimem. Algumas, por ignorância ou tradição; outras, por sadismo ou interesse; e outras nos oprimem simplesmente por "amor" — ou por um absurdo desejo de nos salvar à força. Mas todas, no fundo, só querem mesmo é conservar o mundo do jeito que está. Porque padecem de normalidade, e pretendem matar os belos sonhos de liberdade que trazemos no peito. Só querem manter-nos a ferros e veludos — e com as devidas coleiras e algemas. Em português, essas "coisas" começam com a letra P: os pais, o pastor, os professores, a polícia e o patrão. Se você não se livrar logo de todos esses pês, e de sua influência perniciosa e opressora, vai provavelmente segui-los de cabeça baixa pelo resto da vida — e ficar igualzinho a eles.






MANTER UMA INFIDELIDADE EM SEGREDO É MAIS VERGONHOSO DO QUE TORNÁ-LA PÚBLICA



211. Aceitar o inevitável é uma sábia decisão.
212. O auge de uma paixão está sempre no começo dela.
213. Não espere a graça do cisne no pescoço de um pato.
214. Em vez de salvar a relação, eu prefiro salvar o meu amor.
215. Só tem uma coisa pior do que morrer: é viver pouco.
216. Sempre danço conforme a música. Mas, antes, escrevo a partitura.
217. Não tenho culpa se além de loucura Deus me deu razão.
218. Quem jura amor eterno deveria ser processado por estelionato emocional.
219. Toda musa já traz uma víbora dentro de si. É só uma questão de tempo.
220. Dispenso a compreensão daqueles que não conseguem me compreender.
221. Se, numa relação de amor, a verdade entristece — minta com alegria.
222. Prazer não sentido é prazer perdido. Irrecuperavelmente perdido.
223. Se o amor não pode ser livre, não deve ser nada.
224. Ceder uma vez só é muito mais difícil do que ceder nunca.
225. É um desperdício imperdoável ter um grande coração, e deixar nele um único amor.
226. A fé move montanhas. A paixão, cordilheiras.
227. Eu não nasci para satisfazer as expectativas de ninguém — nem mesmo as minhas.
228. O sábio, quando se apaixona, se ilumina. O idiota, fica bobo.
229. Deus é justo: quando faz o insensato, tira-lhe a razão.
230. As rédeas da tua vida estão nas mãos de quem.

Do livro 800 Frases de Edson Marques






NÃO SE CASE POR AMOR. QUEM SE CASE POR AMOR SE FODE COMPLETAMENTE



Se uma pessoa ama realmente a liberdade, e além disso tem charme e gostosura, ela não precisa de mais nada para manter-me preso, espontaneamente preso aos seus pés. Não preciso de alianças no dedo anular nem de cordinhas no pescoço. Não preciso de promessas nem de garantias em papel. Nas questões do amor, eu sou um verdadeiro vira-lata zen: vivo abanando o rabo pra todo mundo que me excita. Mas quem não preenche delicadamente essas três condições fundamentais — charme, gostosura e liberdade — nem adianta mostrar-me um osso: quero distância!
Nunca terei dono.






A COISA MAIS PROFUNDA QUE HÁ NO CORPO HUMANO É TESÃO À FLOR DA PELE



Amar é permitir sempre. Amar é deixar que o outro vá — ou que fique, se assim o desejar. Amar é ter um respeito absoluto pela própria liberdade, e pela liberdade do outro. Amar é compreender sempre. E isso não significa apenas entendimento racional, vai além, muito além: Amar é reconhecer afetuosamente o direito que o outro tem de fazer suas escolhas. Mesmo que essas escolhas eventualmente me excluam.

Essa definição de amor foi originalmente publicada no meu livro Manual da Separação (1998, página 14). É muito citada na internet, o que me deixa contente. Entretanto, apesar de considerá-la perfeita — no sentido de irretocável — já lhe escrevi alguns complementos críticos que podem ser lidos em seguida.

Se amar significa "reconhecer afetuosamente o direito que o outro tem de fazer suas escolhas" — como eu disse acima — será que nessa colocação pode estar implícito que devo aceitar as idéias do outro, todas, mesmo as absurdas ou cerceadoras da liberdade, e incorporá-las como se minhas, se o outro assim desejar? Claro que não. Isto seria uma violência. Cada um de nós tem um sistema de valores. Mesmo que seja em nome do amor, a submissão é um horror.

Portanto, amar não significa aceitar todas as escolhas que o outro fizer, mas sim apenas aquelas que não impliquem uma supressão da nossa liberdade pessoal. Porque falta de liberdade causa uma dor imensa. E se causa dor, não é amor. Portanto, se uma determinada escolha feita pelo outro, que diz me amar, contraditoriamente cerceia minha liberdade, ou violenta minha dignidade, me sufoca ou atormenta — então essa escolha me faz mal, e deve ser rechaçada imediatamente, com determinação. Jamais devemos compactuar com quem nos fere ou nos amputa. Sem essa de beijar o carrasco em nome do amor...

Sem liberdade a vida morre.

Amar de verdade é jamais ter ciúmes, nem medo de perder. Amar é não forçar nada, sequer um abraço. Amar é não fazer perguntas desnecessárias ou indiscretas — muito menos na hora imprópria. Amar é não mendicar companhia. Amar é deixar fluir a relação em todos os sentidos. É incentivar o vôo livre que o outro possa estar querendo, e às vezes até mesmo empurrá-lo com ternura para o abismo gostoso do desconhecido profundo. Amar é respeitar com devoção e aplaudir com entusiasmo esse desejo louco de saltar que o outro às vezes tem. (...)

Eu defendo a tese, ousadíssima da perspectiva conservadora, de que o Amor tem que ser livre. E, se não for livre, que seja chamado de qualquer outro nome — menos de amor. Aliás, é bom provocar: se o amor não for livre, como será ele, então? Amor preso? Encarcerado? Acorrentado? Será que alguém, com um mínimo de respeito à vida, pode ser contra o amor livre? Sei que esse é um tema complexo, impossível de ser debatido em meia página de um livro, pois cada um de nós pensa de forma diferente, e tem uma carga enorme de preconceitos específicos e de falsas impressões. Mas, resumindo, eu gosto de supor que sinto-me amado, realmente, quando a pessoa que diz me amar pode olhar-me nos olhos e também dizer, do fundo do coração, verdadeiramente:

Eu te amo quando não preciso mais dizer te amo.
Eu te amo quando reconheço teu Direito de Fazer Escolhas.
Eu te amo quando respeito tua própria liberdade tanto quanto a minha.
Eu te amo quando compreendo tua vontade de às vezes ficar só.
Eu te amo quando não te sufoco com chiliques ou pressões.
Eu te amo quando ponho afeto entre as nossas distâncias.
Eu te amo quando aplaudo os teus desejos de voar.
Eu te amo quando me convenço de que o ciúme é o câncer do amor.
Eu te amo quando te ajudo a ser mais livre do que eras quando eu te conheci.
Eu te amo quando a recíproca a tudo isso também é verdadeira.


Um relacionamento amoroso só dá certo — e duuuuuura bastante — quando os dois amantes amam também a liberdade. Ou quando ambos a sacrificam, simultaneamente. Tem que haver um pacto. Pois, se apenas um deles amar realmente a liberdade, a coisa desanda — e a separação é fatal.


Jurar amor eterno logo no início de uma relação pode ser considerado crime de falsidade ideológica, e deveria ser punido com pena de prisão.
Geralmente é.

Tem gente que diz que o verdadeiro amor é aquele que dura para sempre. Ora, sendo assim, nunca saberemos se um determinado amor é verdadeiro, posto que o período de tempo chamado Sempre ainda não chegou – e jamais chegará. Do ponto de vista da Lógica, esta é uma afirmação inverificável. Logo, tal frase, repetida ingenuamente por papagaios aprendizes, é um absurdo.






ÀS VEZES UM TIRO NA TESTA É MAIS EFICIENTE DO QUE UM DIÁLOGO DE PLATÃO



Platão, no Banquete, faz Sócrates apresentar uma interessante definição de amor. Vale a pena ler. Em certa passagem, o amor é definido como um desejo do ser amado — o amor é o desejo da posse do objeto, da pessoa, ou da ideia que se ama. Se o amor é o desejo da posse, então o amor é a falta daquilo que se ama, pois, quando se possui a coisa, não mais se a deseja. Então, segundo Platão nesse citado livro, o Amor é o sentimento de vazio causado pela ausência, pela falta da coisa amada. Devo dizer que não concordo com tal visão platônica do Amor. Para mais detalhes acesse o link Filosofia no cabeçalho deste site.