São duas as coisas (indispensáveis) que precisamos para conseguir a própria Liberdade: chamam-se Desapego e Coragem. E não dá para se ter uma sem a outra. Acontece que o verdadeiro desapego vai além das coisas materiais. Só ficamos realmente livres quando nos desapegamos até das coisas espirituais. Principalmente das coisas espirituais! Não basta desapegar-se do vinho e do Camaro vermelho: é preciso desapegar-se de Zeus. De Zeus, de Apolo, e de Vênus. É preciso desapegar-se do pão e das flores. Das estrelas — e também dos amores...
Sem desapego, impossível ser livre. E sem liberdade, impossível ser feliz.
A felicidade é uma flor delicada que a gente pendura nos galhos do Agora. Desde que bem pendurada, jamais cairá. Vai durar para sempre. Nunca secará. A felicidade é um estado de espírito — e é um estado tão profundo, que, uma vez atingido, viverá conosco para sempre. A felicidade, depois que a conhecemos de verdade, nunca mais a perdemos. É como uma iluminação budista ou zen. Talvez sejam até a mesma coisa.
Mas não imaginem que eu esteja negando a gostosura que é ter um Camaro vermelho ou um cavalo negro com sela de prata. A gostosura que é comer um pão sovado ou ganhar um buquê de rosas champagne. A gostosura que é ter orgasmos. Desapego não significa privação nem desprezo. É amor puro pela coisa em si.
Começo a supor que existem estratégias inconscientes pessoais inexplicáveis. Montadas à nossa revelia, escapam da nossa compreensão primária. São racionais, logicamente, posto que originadas no cérebro, embora delas não tenhamos consciência. Preciso pensar um pouco mais sobre isso.
A loucura é uma qualidade da minha alma e a liberdade é um atributo do meu corpo. Porém, enquanto substantivas, a minha liberdade e a minha loucura são propriedades que só a mim pertencem. Não abro mão delas nem de seu controle absoluto. Quanto ao corpo e à alma, eu os quero assim, mesmo: loucos e livres. Domesticá-los, jamais!
Como poeta, salto alegremente nos braços da loucura. Mas, como filósofo, preciso conceituar a expressão:
Embora seja insuportável para quem já perdeu a lucidez, a Loucura é a única salvação. Por isso recomendo aos "normais ainda saudáveis" que procurem o caminho poético da Loucura inteligente. Claro que não me refiro à loucura inconsciente, transtorno bipolar, psicose, depressão, esquizofrenia, nem algo semelhante. Eu me refiro à loucura criativa de Osho, de Dali, de Paritosh. Eu me refiro à loucura brilhante de Nietzsche, de Jesus e de Artaud; à loucura sagrada de Van Gogh, Henry Miller e Picasso. Eu me refiro à loucura que está ali — aqui — a quase 360 graus da sanidade. Eu me refiro à fuga da escuridão chamada Norma. À quebra radical das as correntes opressoras. Ao abandono puro e simples do rebanho. Eu me refiro à loucura luminosa dos criadores de mundos. À loucura dos amantes da liberdade absoluta. Esta, a loucura que (me) (te) (nos) encanta...
Se por acaso ou por desastre eu vivo um dia de rotina, espremo à noite o meu coração como quem torce roupa, e não sai nada — nem uma palavra, nem uma gota, nem um pingo, nenhuma emoção. Tudo fica meio cinzento e meio apagado, e meu corpo cansado só consegue dormir. Mas quando vivo um dia de aventuras, vivo também uma noite de prazer escandaloso. As palavras caem delicadas no meu colo, excitantes, graciosas, uma tempestade de desejos e de mel se forma no meu peito, um livro todo escreveria se quisesse. Deus me abraça com tesão e alegria, o vinho branco cai direto lá no céu na minha boca, o universo inteiro entra em foco, meus amores todos se tornam girassóis — e a Vida me convida pra dançar...
E tudo que eu toco vira música.
Não devemos ficar muito impressionados com uma hipótese, só porque ela é nossa. Toda hipótese não passa de um pequeno passo no caminho do verdadeiro conhecimento. Temos que perguntar, sempre, por que uma determinada ideia nos agrada tanto. Temos obrigação intelectual de compará-la, imparcialmente, com as alternativas. É bom verificarmos se é possível encontrar razões que a invalidem. Aliás, essa verificação é fundamental. Porque, se não fizermos isso, outros certamente o farão — e nós poderemos ser até mesmo ridicularizados. O que nos deve interessar, portanto, antes de tudo, é a verdade, e não o nosso apego inabalável a certas conclusões que adoramos.
No meu livro Teoria do Acaso eu arrisco bastante na formulação das hipóteses. Vou até Cristóvão Colombo, estudar as razões que o tornaram um aventureiro inteligente. Mostro como as circunstâncias o levaram à descoberta da América. Analiso até os interesses de Fernando e Isabel, reis de Espanha, nessa empreitada. Conto até sobre os anos pobres em que Cristóvão Colombo vendeu livros de porta em porta para sobreviver. Porque, você sabe, se Cristóvão não fosse o louco que era, nem eu nem você existiríamos. É lógico que não existiríamos!
É melhor que o nosso amor seja brilhante, escandaloso e carregado de energia, forte como um relâmpago — ainda que seja breve, ainda que dure pouco — do que ser apenas o reflexo assustado de uma vela acesa pela metade, fraquinha, quase apagando, tremeluzindo em desespero por toda a eternidade...
Quando eu falo em Jesus estou me referindo a um Mestre. A um gênio. A um filósofo que soube muito bem compreender a alma humana. Não é, provavelmente, o mesmo Jesus a que você se refere, e em quem você diz que crê. É outro. O meu Jesus é um sábio, o teu parece apenas um ser mitológico. Mas o bom de Jesus é isto: ele já previu que nós dois existiríamos. Um de nós Lhe dá as mãos em cumprimento respeitoso por suas ideias geniais, e o outro só Lhe pede salvação, e um potinho de miçangas. Mas o melhor de tudo nessa história é que, confiando em Jesus — cada um a seu modo — nós dois seremos salvos...
Cada um a seu modo.
Sou o autor da minha peça e o próprio personagem. A dança e o bailarino, a música, o maestro, compositor. A ternura mais vermelha e delicada, o lóbulo da orelha e o copo de vinho do meu amor. O beijo e o abraço, a delícia e o licor. O êxtase, e todas as auroras que ainda vão chegar. Sou o céu do precipício, a língua do horizonte — e mais além. Sou o sagrado e o profano, o profundo e o supérfluo, a origem da tragédia, e o brilho da cor. Sou mínimo e tanto, pouco e princípio, paixão, excesso e glória. Sou relâmpago, transitório, passageiro, imprevisível, pétala de estrela solitária, um pingo de ocidente no teu mel. Sou todo infinito no entusiasmo, e a última labareda amorosa de uma espécie de fogo em extinção...
Minha proposta é a Liberdade Absoluta. Eu venho é para semear auroras no teu peito. Quebrar paradigmas, derrubar padrões. Não trago nenhuma resposta pronta: eu só faço perguntas. Em verdade, eu quero mesmo é mexer no coração da tua cabeça — por fora e por dentro — poeticamente. Fazer um delicioso cafuné nos teus neurônios enrolados e amorosos. Passar um doce pente fino nos caracóis da tradição... Eu quero questionar as tuas verdades mais queridas. Chacoalhar essas tuas convicções inabaláveis. Não vim te propor sossego — nem venho te trazer a paz cansada. Eu apenas te convido a ter coragem. Eu te convido a um salto profundo. Escandalosamente profundo.
O sono é uma necessidade espiritual. Eu tive essa ideia semana passada e agora fico pensando sobre ela. O bom de ser filósofo sem compromisso e poeta louco é isto: eu posso escrever uma frase genial ou dizer uma besteirinha qualquer — tudo com a maior naturalidade. Mas essa questão do sono ser algo de fundo espiritual está me fascinando, realmente. É uma ideia minha — original. Portanto, se for uma besteira, eu assumo-a, integralmente. Claro que, se quisermos levar a sério tal discussão, precisamos antes definir o que é "espiritual". Precisamos conceituar o Espírito.
Enquanto a espiritualidade não for matematizável, ela não poderá ser cientificamente definida. Temos que retirar a espiritualidade do âmbito exclusivo da religião. Quem deve se ocupar disso, num primeiro momento, é a Filosofia. Enquanto a Teologia mantiver o falso direito de exclusividade sobre o Espírito, não chegaremos a resultados logicamente aceitáveis. Porque a Teologia se utiliza de dogmas para elaborar seus conceitos — e dogmas são totalmente inaceitáveis pela Ciência. A Ciência constrói seus postulados com base em evidências quantificáveis, mensuráveis, verificáveis. Mesmo quando a Ciência trabalha com hipóteses, estas devem ser pelo menos plausíveis. A Teologia aceita como verdade até mesmo aquilo que pertence ao campo da Feitiçaria. Já a Ciência requer comprovação empírica. E a Filosofia é que deve fazer a ponte para que o Espírito se desloque para o campo da Física. Sem isso, essa energia que eu suponho ser o Espírito vai continuar sob o domínio dos comerciantes de religião, dos pajés e dos pastores — geralmente não muito comprometidos com a verdade. O que será péssimo para o futuro da Humanidade.
Mas depois eu volto para expandir um pouco mais essa ideia inicial.
Eu não escrevo para qualquer um, eu escrevo pra você. Eu escrevo para gente que pensa e brilha como você. Gente que reflete. Por isso é que meus textos são breves, puros, refinados, provocantes. Desenhados com doçura, demoro a escrevê-los. Tem dias que eu demoro duas horas para escrever uma frase. Mas tem dias que eu preciso me cegar para te abrir os olhos. Porque você passa o tempo todo em busca de uma coisa inexistente. Você quer segurança, estabilidade e certezas absolutas... Parece que você não sabe que isso é impossível. E parece que você vai continuar procurando quimeras: o homem da tua vida, a mulher da tua vida, o emprego ideal definitivo, o projeto infalível, um amor eterno, o filho perfeito, um milagre exclusivo. Essas coisas não existem. Mas você, ingenuamente, continua desperdiçando energias vitais nessa busca inglória. As coisas vivem dançando. O mundo é um bailarino.
Casar-se burramente, por impulso, por paixão — é até aceitável. Acontece. Mas, separar-se, tem que ser de modo inteligente. Tem que ser algo bem planejado. A decisão tem que ser racional. Separar-se por impulso, por paixão, é uma burrice duplamente acumulada. Portanto, pense muito bem antes de separar-se. Se você não ama suficientemente a liberdade, nem suporta a solidão, fique onde está. E se não for independente — cale-se, simplesmente. Aceite a coleira, a focinheira e as algemas. É preciso tomar providências antes de abrir as asinhas. Ser livre não é para qualquer um. Ser livre é coisa séria.
Eu sei que o que proponho é algo ideal. Eu sei que nem tudo são flores e estrelas na vida das pessoas. Nem todos conseguem livrar-se dos apegos, dos medos e dos preconceitos. Nem todos conseguem livrar-se da pressa e da opressão. Nem todos conseguem mudar valores errados que herdaram. Inteligência emocional é coisa rara. Nem todos podem sonhar, brilhar e dançar. A liberdade não se compra por quilo. Nem todos têm a chance de preparar-se, de refinar-se como se deve. O sistema acaba atropelando quase todos. O tempo é escasso. Eu compreendo. Saltar profundo não é pra todo mundo.
Entretanto, o fato de ser ideal o que proponho — isso não torna condenável a minha filosofia de vida. Ao contrário, minha filosofia é uma porta poeticamente escancarada para o Céu — desde que se entenda essa palavra como a metáfora mais perfeita da própria Felicidade. Portanto, continuarei defendendo-a, de todas as formas amáveis possíveis. Para sempre.
O desapego é a mais pura forma de amor. Essa minha frase é apenas um resumo do que me disseram dois grandes mestres: Sidarta, o criador do Budismo, e Jesus, aquele que fez o Sermão da Montanha. Eles sussurram todo dia essas coisas para mim. Ambos pregavam exatamente isso: o desapego. Sei que é difícil desapegar-se. Demora muito. Mas, mesmo assim, é preciso ir além. É preciso que nos tornemos não só desapegados, como também desnecessários. Ou seja, é preciso permitir que o outro também de nós se desapegue. Libertar-se — e permitir que o outro também se liberte. Todas as grandes religiões e filosofias orientais pregam exatamente isso. Mas, nós, aqui no Ocidente, apressados e materialistas, ainda estamos longe disso. Ainda somos muito pesados. É uma pena...
UMA ILHA DESERTA E GREGA
Ainda vou reunir esses deliciosos loucos e loucas, esses santos e santas que eu amo e amei, essas deusas e musas que já conheci e ainda encontrarei, convidá-los a subir num barco, um barco enorme — um navio, um transatlântico — levá-los todos para uma ilha luminosa, deserta e grega, e viver com eles para o resto das nossas vidas. Em liberdade absoluta. Falando em todas as línguas, amando de todas as formas, bebendo de todos os vinhos, rezando a todos os deuses... A vida seria uma festa maior ainda. Viveríamos dançando todas as danças, ouvindo todas as músicas, escrevendo poesias de amor, plantando flores e colhendo estrelas, tomando sol, sorrindo e gargalhando. E transando com a própria Vida, todo dia — o dia todo.
Eu só falo de Amor e Liberdade. Até o fim dos meus dias eu vou falar de Amor e Liberdade. Por isso meu verbo não se admira: só causa espanto. Acontece que escrevo para loucos brilhantes e livres de espírito. Porque aqueles cujos espíritos são meio escravos ou cujas loucuras não brilham tanto — talvez não gostem do que eu digo. E nem devem mesmo gostar. Minha literatura é feita de excessos. Tem cadência, alegria e pulsação... Como já disse, eu falo de Amor e Liberdade — e sei como se ama. Aprendi o que é o Amor. Mas não pretendo ensinar nada disso a ninguém. (...) Não busco aprovação alheia, nem quero aplausos. Só quero provocar intelectualmente as pessoas criativas, como suponho você é. No fundo, eu quero apenas questionar todas as verdades, esmagar todas as convicções — inclusive as tuas, mas especialmente as minhas.
MINHA ALEGRIA É INVULNERÁVEL
Quando alguém expressa um pensamento com o qual eu não concordo — sobre mim ou sobre a vida, sobre amor ou religião, sobre a Dilma ou futebol — não me sinto nem um pouco ofendido. Afinal, são milhares de pessoas pensando e emitindo opiniões a respeito dos mais variados assuntos. (...) Portanto, seria insensato estressar-me a partir dessas alheias conclusões. Respeito quase todas as opiniões, mas deixo-as onde estão, pois seria um absurdo condicionar o meu humor e a minha felicidade a esses múltiplos estímulos. Minha alegria é invulnerável. Sofismas não me atingem. Cada um de nós é um ser único. O que é bom para o outro pode ser péssimo para mim — e vice-versa. Cada um de nós pensa com seu próprio sistema nervoso. Suponho. E sugiro que você encare as críticas também da mesma forma.
Quando — a duras penas — o burro aprende a raciocinar um pouco, ele não fica de modo algum inteligente. Ele apenas se torna capaz de cometer burrices um pouco mais elaboradas — e em maiores proporções. A essência da coisa não muda muito. Infelizmente.
Desmandamentos
1. Ame a Vida sobre todas as coisas.
2. Não obedeça a ordens — exceto àquelas que venham do teu próprio coração.
3. A felicidade está dentro de você. Não a procure em nenhum outro lugar.
4. O amor livre é a mais religiosa das orações.
5. O desapego é a única porta para o Céu.
6. A vida só existe aqui e agora.
7. Não corra: dance.
8. Viva acordado — em todos os sentidos.
9. Pare de buscar: o que é teu já te pertence.
10. Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.
Neste nosso Universo, tudo se resume a uma troca de energias. Desde uma paixão adolescente até à bomba atômica, tudo é troca de energia. Desde o ferver da água para um café da manhã, ao ato de acionar a tecla de um notebook; desde a lembrança amorosa que agora tenho da minha Mãe até uma viagem a Júpiter, passando pela conversa deliciosa entre dois bem-te-vis e o florescer de um lírio branco — tudo é troca de energia. Logo, com o apoio do filósofo que ora em mim, e concluindo numa expressão metafórica e poética — Deus é energia. Do meu atual ponto de vista, Deus é (também) a soma de todas essas energias dançantes que constituem o Universo. Embora algumas delas sejam vitais e outras, mortais — é a vida!
Teoria do Acaso é um livro que estou escrevendo desde 1998, onde expresso meus pontos de vista sobre as causas imediatas e remotas de todos os acontecimentos num dado universo de observação. Que pode ser uma relação de amor, um emprego no subúrbio, uma viagem curta inesperada, a criação de uma galáxia, um cisco no olho, ou uma história de vida. Na minha concepção — fundada em duas décadas de estudos filosóficos — tudo acontece por acaso. Tomo como exemplo a forma como eu nasci, o modo como meu pai conheceu a minha mãe, o jeito romântico como meu louco bisavô Luiz Marques "sequestrou" minha bisavó Vitalina — e assim por diante. Sem o que veio antes não viria o que veio depois. Sem o cisco no olho do meu bisavô ele não teria ido à cidade naquela tarde de domingo, e jamais teria conhecido a moreninha vestida de chita, sentadinha num banco de pedra da estação rodoviária. Por mais que me digam que dez anos depois ele a teria encontrado de novo em outro lugar, não creio que a loucura dele fosse ainda a mesma. Nem a coragem. Nem o entusiasmo. E eu certamente não estaria aqui, hoje, te contando essas coisas. Simplesmente porque, se não fosse a loucura gloriosa do meu bisavô, eu não teria sequer existido. Esse é o tema principal do meu livro.