20.10.11

Viver é uma delícia. Experimente.



Sou que nem Henry Miller: tudo que eu quero da vida é um punhado de sonhos, um punhado de livros e um punhado de amores. E um copo de vinho transbordante...



Estou revisando os dois últimos capítulos do meu livro Teoria do Acaso e me deparo com certos fatos ali narrados que ainda me emocionam demais. Nesse livro eu conto os detalhes de como conheci alguns dos meus amores, como foi que as circunstâncias me abraçaram, e como também por mim foram elas abraçadas. Como foi que meu pai se apaixonou por minha mãe. Como foi que Nietzsche conheceu Lou Salomé, como Dali se apaixonou por Gala, como foi que Sócrates encontrou Xantipa. Minha tese é que o acaso determina cada uma dessas coisas. Tudo que acontece na vida da gente é obra do acaso. Se Cristóvão Colombo fosse apenas um contador, não estaríamos aqui, agora, conversando. Cristóvão teve que ser louco para empreender aquela viagem. Eu fico elocubrando, divagando, escrevendo, dançando nas teorias e nos amores. Mas, ao escrever sobre a doce Suzana, acabo me lembrando da década de 1990, quando eu morava na Alameda Barros, em SP, e às vezes chegava em casa à noite e encontrava uma festa. Alguém me abria a porta e até me perguntava quem eu era... rs! Eu costumava deixar uma chave do apartamento na portaria, e autorização para que toda mulher — consideradas algumas premissas, mesmo que os porteiros nem a conhecessem — pudesse pegar a chave e subir. Quantas mulheres fossem. E que se sentissem elas totalmente à vontade. Que bebessem do meu vinho e comessem do meu pão. Algumas eram amigas, e outras, totalmente desconhecidas. As surpresas que eu tinha por causa disso sempre foram maravilhosas. Conto algumas dessas surpresas, dezenas, nesse livro acima citado. Era assim a minha vida. E nesses quase quinze anos que se passaram não mudou quase nada — exceto duas ou três relações meio fechadas que me levaram a diminuir muito a freqüência das festas. Mas voltarei logo mais a deixar minha chave na portaria de novo — com as mesmas recomendações. Para que tudo se repita outra vez, de modo ampliado, mais intenso, e mais gostoso.

Naquele mundo maravilhoso, quase mitológico, o "centro de gravidade" era Eu — e Eu saltava dentro de mim mesmo, para um outro Eu ainda mais profundo e mais central. Eu era um sol iluminando estrelas cadentes. Eu lhes dava luz e amor, em troca de mais luz e mais amor. Eu me tornava cada vez mais absoluto, e elas viravam estrelas ascendentes, bailarinas, quase sempre. Felizes aquelas que gravitavam em meu redor, diziam elas. Em verdade, aos pares nos tornávamos estrelas binárias — ainda que por vezes santíssimas trindades ocorressem. Tudo era fora do normal. À época, eu pensava que certas coisas que vivíamos eu só as contaria vinte anos depois da minha morte. Hoje eu já considero a possibilidade de contá-las vinte anos antes. Daqui uns quarenta, portanto.


NÃO VENHO TE PROPOR SOSSEGO


Eu tenho coisas pra te contar. Descobertas que já fiz. Segredos que revelei — e outros que escondi. É por isso que eu insisto em semear um pouco de Sócrates a granel nas areias do teu cotidiano. Semear alguma coisa nova na clausura emocional que te protege. Quebrar as prateleiras corroídas dos teus paradigmas mais sólidos, e espicaçar o miolo seco dos teus queridos padrões inconsequentes.

Não é fácil.

Mas não se preocupe demais comigo, porque não trago nenhuma resposta pronta que se imponha de repente ao teu sossego inexplicável. Só te faço perguntas. Indiscretas, às vezes, mas sempre originais, malucas, ins-pirantes. O que eu quero mesmo é mexer na tua cabeça, por fora e por dentro. Quero te mostrar a importância do agora. Eu quero, respeitosamente, desrespeitar esses teus medos insensatos. Enfrentar teus mais amados preconceitos. Quero fazer um cafuné delicioso nos teus neurônios enrolados. E depois de tudo isso passar um pente fino nos caracóis da coisa pronta.

Ainda quero te ver livre, meu Amor.



Mas eu não nasci para satisfazer as expectativas de ninguém — nem mesmo as minhas, que aliás nem tenho. No fundo, eu só quero mesmo é provocar intelectualmente as pessoas criativas, como suponho você seja. Eu quero questionar tudo. Quero questionar os teus padrões, tuas verdades e medidas, teus olhares e desejos, teus anseios, despedidas. Esmagar tuas convicções, assim como esmago as próprias minhas. Mas não pense que eu quero muita coisa, não: eu só quero é fazer o sol nascer brilhante no meu peito todo dia, e abraçar a metade do infinito quando me deito na praia em noites de luar escandaloso. Quero escrever poesias, falar de amor e liberdade, saltar profundo — e gozar a vida. Quero balançar a cabeça de quem me lê, delicadamente, de dentro para fora. Esparramar minhas loucuras no coração dos meus amigos e dos meus amores. Repartir com todos a poesia do meu entusiasmo e dos meus delírios. Só isso.



Meu trabalho é escrever apenas, e contar histórias para mudar o mundo. Arriscar a Vida em teu nome e fazer loucuras por mim também. Dançar profundo à beira do abismo, e tecer a sorte como se aranha. Porque, felizmente, há dois amantes loucos morando em mim: um é poeta, e o outro, filósofo. O filósofo compreende tudo porque reflete muito por sobre o pouco que o outro pensa. E acaba vendo mais longe no espelho das coisas porque sobe numa escada chamada Razão. E isso é bom. Mas o poeta, esse não compreende nada — porque não precisa de coisa alguma. Nem pensa em pensar profundo: só dança com seus amores. Não vê mais longe, nem vê mais nada. Mas sua escada se chama Poesia. E isso é belo.



Eu respeito sempre os meus amores. Assim mesmo: no plural. Tenho muitos. Sempre os tive. Mas, quando eu digo "respeitar os meus amores", às vezes refiro-me às pessoas que eu amo, outras vezes às coisas que eu sinto. Portanto, respeitar os amores tanto pode significar respeitar as vontades (desejos, critérios, preconceitos) de pessoas que eu amo (e que suponho me amem), quanto seguir livremente as paixões (desejos, critérios, loucuras) que eu trago no meu próprio peito. Dito de outra forma, e preferencialmente: respeitar os meus amores é seguir meu coração.




SAGRADA MALÍCIA
Sou tão bonzinho, que às vezes chego a mentir que não sou tanto, apenas para não sufocar o outro com excesso de bondade. Tão alegre, tão feliz, que às vezes dissimulo, para que o outro não suponha que sou privilegiado. Para que ele nem perceba que toda a felicidade do mundo pousou em mim, e habita meu coração como uma deusa deslumbrada. Tão puro, que sou obrigado a comprar todo dia no mercado secundário dos amores menores uns dois pacotinhos de malícia profana, só para ficar um pouquinho mais safado. Sou tão inocente, mas tão inocente, que quase ninguém acredita. Às vezes, nem eu mesmo consigo acreditar.



SÓ SEI QUE NADA SEI


Estudei Filosofia na USP. Fui aluno de Marilena Chauí, Oswaldo Porchat, Franklin Leopoldo e Silva, Ricardo Mário Gonçalves, etc. — dos quais recebi influências lógicas fundamentais. Quis ser jornalista pela ECA, mas parei na metade. Estudei Direito também na USP (Largo São Francisco), onde meu maior Mestre era Gofredo Silva Telles. Abandonei a faculdade de Direito no sexto semestre para tornar-me fotógrafo profissional. Ainda estudei Economia, por dois anos, o que me ajudou a entender um pouco mais a vida. Sou sócio-fundador da Ordem Nacional dos Escritores, onde ocupo a cadeira número seis, cujo patrono é Graciliano Ramos. Fui diretor de comunicações do Clube de Poesia de SP na gestão Ives Gandra Silva Martins.
Hoje, nas horas vagas, viro um construtor de pirâmides. Além de escritor, sou empresário romântico na área de Construção Civil, onde pude constatar que a Classe Operária jamais irá para o Paraíso. Mas isso tudo não tem a mínima importância, nem pra mim, nem pra você. Só tem uma coisa muito boa que eu quero te contar: em fevereiro de 2012 pretendo abrir, talvez aqui no Guarujá, uma deliciosa filial histórica dos Jardins de Epicuro — que será um Centro de meditação, dança, discussões filosóficas e demais porraloquices do gênero. Eu te convidarei.



É impossível ser feliz sem liberdade.


Por isso o que eu hoje prego é um delicioso convite à transformação pessoal; é uma busca infatigável por algo que é fundamental à dignidade da vida humana: a própria liberdade. O que proponho vai no sentido de uma ruptura com esse marasmo em que nossa vida quase se transforma. Uma violenta, radical e doce ruptura com essas normas injustas, e com tudo o que de alguma forma nos oprime. O que eu prego não é uma provocação: é um desafio emocionante: é a possibilidade aberta de uma escolha consciente do próprio caminho da vida. Nada mais. Nada menos.


Sou amigo de todas as minhas ex-namoradas. Especialmente Joyce Ann.


Sou a favor do amor livre, mesmo porque seria burrice defender o amor preso. Amante dos Beatles e dos Rolling Stones, gosto de Zé Ramalho a Beethoven. Geralmente moro sozinho, mas adoro jantar com meus amigos e meus amores. Só não janto com inimigos. E não tenho medo, não tenho ciúmes, não tenho pressa.
Sempre me afasto das pessoas perigosamente normais. E penso que só quem salta inteiro no belo escuro azul profundo da vida é que pode viver e brilhar de verdade.



No começo eu era um marxistazinho empedernido. Aos doze anos, já queria salvar a classe operária, mal sabendo que classe que não tem classe não se salva. Se afunda... Eu li o Livro Vermelho, de Mao Tsé-tung. Li "O Capital" inteiro, rabiscando página por página, e escrevi uma tese sobre Lênin. Tive que apoiar até mesmo o realismo socialista que chegava de Moscou. Virei comunista, fui preso pela ditadura militar, sofri censura, invadiram minha casa — e eu achava tudo isso uma delícia. Mas, como todo bom comunista, achava o grande Freud dispensável, e considerava a psicanálise apenas uma "técnica de manipulação pequeno-burguesa". Mas eis que o Acaso na esquina da vida em forma de vaso caiu-me por sobre. E o meu grande amigo Gaiarsa me virou a cabeça. Apaixonei-me por ele e pelas coisas que dizia. Coisas óbvias, mas que eu nem percebia.

Mudei.

Conheci Moreno e Reich. Deitei-me com Jung e Cioran. E depois fui jogado nos braços abertos de Osho ao lado de uma cachoeira escandalosa em São Francisco. Desabei-me sobre mim num delicioso balaio de flores e estrelas. Vi ruírem, uma a uma, todas as minhas estruturas intelectuais. Vi que a seriedade era risível. Agarrei-me ao Livro Orange. Destruí as minhas convicções. Rasguei minhas gravatas, desfiz os meus laços, descasei-me em baciada. E aquilo que sempre desprezei passou a ser fundamental, de uma hora para outra. Nietzsche, de quem eu mantinha enorme distância política, passou a ser meu sócio delirante nas loucuras mais gostosas. Comecei a dançar a vida com Roger Garaudy. Tirei a máscara e mostrei meu rosto. Existenciei-me. Transei com Sartre, e beijei Henry Miller na boca. Meu Deus! Acordei para sempre. E o próprio tempo passou a ser meu. Enfim, assumi o comando do meu destino. E agora estou aqui... te olhando nos olhos e pensando loucuras. Pensando em te convidar para saltar comigo. Para saltar profundo como eu saltei.




Sei que tenho contradições — porém são todas não antagônicas. Como filósofo, desde a minha doce adolescência, sempre fui ateu, mas hoje Deus me adora tanto, que passamos a ser amigos. E Jesus é um dos meus heróis. Ambos me abençoam, certamente, pois nunca fico doente: há dezoito anos que não tomo nenhum remédio, exceto vinho. Não tenho dor de cabeça, nem de barriga, nem de garganta. Não tenho dor alguma. Não tomo sequer aspirinas. Deixei de ser comunista, mas continuo achando que o Capitalismo não é o Fim da História. Gosto de Fidel Castro e até de Hugo Chávez, assim como gosto de Beethoven e Velazques. Nunca briguei com minha mãe – nem ela comigo. Houve tempos em que fui primogênito; hoje sou filho único. Há cerca de vinte anos que não perco a calma: tenho completo domínio dos meus estados de espírito. Embora tenha casado cinco ou seis vezes, com seis ou sete mulheres encantadoras, meu estado civil ainda é o original. Mas, é bom deixar bem claro: antes de morrer solteiro, eu vou VIVER solteiro.

Geograficamente, nasci em Itararé, e já vivi e ainda vivo em vários lugares: São Paulo, Guarujá, São Vicente, São Francisco, Salvador e Buenos Aires. Mas se me perguntam onde moro, sempre respondo: Eu moro em Mim.




Dentre as minhas muitas frases, eis algumas:

Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as!
O auge de uma paixão está sempre no começo dela.
Sempre danço conforme a música. Mas, antes, escrevo a partitura.
Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante que a velocidade.
Os saudáveis enlouquecem. Os outros ficam por aí, parecendo normais.
É um desperdício imperdoável ter um grande coração — e deixar nele um único amor.
Sempre que nos afastamos do caminho da verdade acabamos violando nosso direito de ter sorte.
Eu não nasci para satisfazer as expectativas de ninguém — nem mesmo as minhas.
As súplicas de um desgraçado nunca fazem com que Deus mude o curso dos acontecimentos.
Ceder uma vez só é muito mais difícil do que ceder nunca.
O ciumento quer o olho. Os amantes, os olhares.
Se eu não for louco por mim — quem será?
Prefiro ser um gladiador ensanguentado a ser um boi feliz.
Nasci num big-bang. Buracos negros me atraem. Eu adoro supernovas.
Rebelde que depende da mesada pra comprar seu pirulito é apenas um palhaço.
O Pico é uma delícia. Por isso todo grande amor tem que ser deixado no Pico.
Só tem uma coisa pior do que morrer: — é viver pouco.
Pra dormir eu conto ovelhas, pra acordar eu conto amores.
Sou cigano, mas quando te leio as mãos não te quero ver a sorte: eu te quero ver amor.
Não permita que terceiros decidam sobre os caminhos que só você sabe se tem mesmo que trilhar
Sempre que possível, deixo o oponente supor que me venceu.
Nem penso em preencher meus dias com trabalho escravo.
A fé move montanhas. A paixão, cordilheiras.
Eu descubro as verdades: adoro vê-las nuas.
Só o que está morto não muda.
Você ama como um simples mortal, ou já sarou?
Deus é justo: quando faz o insensato, tira-lhe a razão.
Eu te amo quando te ajudo a ser mais livre do que eras quando eu te conheci.
Jamais trairei os meus amores simultâneos.
Eu não caio em tentação: elas é que sobem até mim.
Compreender-me não é imprescindível. Interessam-me as tuas emoções.
Quanto mais insustentável for uma relação, mais difícil é sair dela.
Só somos o que somos porque fomos o que fomos.
Viver é recomendável.
Em vez de salvar a relação, eu prefiro salvar o meu amor.
Dúvida é o deus a quem dedico a minha fé.
O sábio, quando se apaixona, se ilumina. O idiota, fica bobo.
Quem nasceu pra jacaré nunca chega a crocodilo.
Aceitar o inevitável é uma sábia decisão.
Ser livre tem um preço. Enorme. Mas vale a pena pagá-lo à vista.
Temos que ser infiéis às nossas convicções — ou não mudaremos nunca!
Eu não vim distribuir água: eu vim distribuir sede.
Tenho duas coisas enormes: talento e modéstia.
Esta última frase é uma brincadeira...

Blog principal =
www.MUDE.blogspot.com


Livros que eu levaria para uma ilha deserta: a Biografia de James Joyce, escrita por Richard Ellmann; todos os de Henry Miller. E os meus. Mulheres que eu levaria para uma ilha deserta: Joyce Ann, Rose, Dora, Edna, Suzana, Beatriz, Paloma, Fábia, Fernanda, Janaína, Geiciane, Daniela, Carol, Alessandra, Fátima, Jo, Verinha, Vera, Eliana, minha Mãe, duas das minhas irmãs, você, e aquela por quem me apaixonei ontem à tarde — todas numa viagem só. Homens nessa mesma viagem: Meu pai, Jesus, Gaiarsa, Buda, Sócrates, Osho, meu cunhado Fernando, meu irmão Luiz José, e um amigo que depois direi o nome. Crianças: Victor e Giulia.



UMA ILHA DESERTA E GREGA

Ainda vou reunir esses deliciosos loucos e loucas, esses santos e santas que eu amo e amei, essas deusas e musas que já conheci e ainda encontrarei, convidá-los a subir num barco, um barco enorme — um navio, transatlântico — levá-los todos para uma ilha luminosa, deserta e grega, e viver com eles para o resto das nossas vidas. Em liberdade absoluta. Falando todas as línguas, amando de todas as formas, bebendo de todos os vinhos, rezando a todos os deuses... A vida seria uma outra festa. Viveríamos dançando todas as danças, ouvindo todas as músicas, escrevendo poesias de amor, plantando flores e colhendo estrelas, tomando sol, sorrindo e gargalhando. E transando com a própria Vida, todo dia, o dia todo.


Em síntese: É melhor dançar no arco-íris do que andar na linha do trem.



Obras publicadas:

"Manual da Separação", 160 pág, Ed. Filosoft,1998, SP.
"O Canto dos Poetas", antologia da Ordem Nacional dos Escritores.
"Beijos no céu da boca", Ed. Do Autor, 1985, esgotada.
"Mude", poema ilustrado, 96 pág,
PandaBooks Editora Original, SP, 2006.
"Rodamundo 2005" – escritores de vários países. Ed. Ottoni, 2005.
"Blog de papel" –
Editora Gênese, 128 pág, SP, 2005.
Poema MUDE –
faixa 4 do CD Filtro Solar – de Pedro Bial.

Inúmeras antologias publicadas. Textos em milhares de sites e blogs. Artigos em jornais, teses e bilhetes. (Claro que os bilhetes são hoje muito mais interessantes do que as teses...)


Mas aqui tem um outro aspecto da minha biografia.



SOU BISNETO DA REBELDIA


Meu bisavô, aos sessenta e dois anos de idade, na década de trinta do século passado, abandonou tudo e apareceu por aqui trazendo no colo uma adolescente chamada Loucura. Um despropósito, disseram todos. Mas o verdadeiro rebelde não hesita entre viver e morrer. O velho Luiz Marques, atolado numa estabilidade massacrante, não havia desistido de procurar aquela coisa que atende pelo singelo nome de felicidade.

Gastou janeiro fazendo planos, um mês inteiro ouvindo vozes, que nem Moisés. E aquela menina passando ali, na frente dele, uma tentaçãozinha vestida de chita, descalça, cabelos soltos, meio ressabiada... Os peitinhos despontando. Então o fazendeiro abandonou tudo: as propriedades e as impropriedades que a elas se ligam, a esposa controladora, os filhos perplexos, as fazendas, as noras, os netinhos, os novilhos e as velhas emoções.

Tudo por causa de Vitalina.

Por aquela menina delicada ele daria o mundo. Por ela, e pelo que então simbolizava aquele amor, ele abandonou mais de mil cabeças de gado e todas as certezas que lhe haviam dado como herança. Era um autêntico rebelde: acabou trocando o futuro garantido e certo, porém morno, por um presente delicioso e faiscante. Jogou fora o velho baú de premissas usadas, quebrou as algemas — e caiu na Vida. Trocou um milhão de verdades antigas por uma pequena mochila de sonhos. Porque, você sabe, não dá para salvar a alma sem antes salvar o corpo. E o que mais excita o o coração de um ser humano é a possibilidade aberta de uma nova vida. O respeitável senhor Luiz Marques tomou aquelas decisões que só os grandes homens conseguem tomar: montou o cavalo negro do risco absoluto e partiu! Pois ele também já sabia que o único crime que não tem perdão é desperdiçar a vida. Abandonou tudo para não ter que abandonar a própria existência naqueles caminhos já percorridos.

Não fosse por isso, eu não estaria aqui, agora, à beira do mar, tomando um belo copo de vinho branco e contando essas coisas todas pra você.

Sou portanto bisneto da rebeldia.

Sou bisneto da rebeldia, neto da emoção, filho da loucura, irmão do desejo, primo do prazer, amigo da liberdade, e amante de todos os meus amores. E existo, por incrível que pareça. No céu da minha boca não há fogos de artifício. Só estrelas.




Com base na tese que defendo no livro Teoria do Acaso, só somos o que somos porque fomos o que fomos. O destino não passa de uma inegável sucessão de acasos. A liberdade é sempre condicionada pela base material da existência.
Se meu bisavô não tivesse raptado sua amada Vitalina em 1920, eu sequer existiria. Se alguém batesse à porta do meu pai minutos antes de ele transar com minha Mãe no dia em que fui gerado, eu jamais existiria. Se Cristóvão Colombo fosse um simples contador, eu também jamais existiria. Isso vale inclusive pra você. E se eu tivesse me casado com o primeiro grande amor da minha vida, certamente não estaria aqui, agora, solteiro — e feliz. Ou talvez meu conceito de felicidade fosse outro, e eu hoje poderia estar mais feliz ainda. Mas, com base nas estatísticas, e se o casamento é mesmo o túmulo do amor, tivesse casado, eu hoje estaria morto — no sentido figurado, ou de verdade, tanto faz. Como se vê, o acúmulo das decisões tomadas por nós determina a situação presente. Nesse sentido, se eu mudasse qualquer das decisões que tomei, por menores que fossem, em qualquer momento anterior da minha vida, nada do que vivi após essa decisão teria acontecido como aconteceu. E hoje eu não seria o que sou. Poderia estar melhor ou pior, não importa. O que realmente importa é que toda decisão é crucial. Portanto, reflita bastante sobre as decisões que você estiver tomando hoje. Elas determinarão o teu futuro, necessariamente. E como mudar o passado não é mais possível, tente mudar o futuro. Se esse caminho que você hoje percorre pode desembocar na escuridão, tome providências imediatas. Às vezes, na vida da gente, logo ali à frente pode haver uma emboscada. Ou uma porta escancarada para o céu, não se sabe.

Você pode ler os capítulos iniciais desse livro AQUI.